Na Era Industrial, e mais particularmente, da segunda metade do século 20 em diante, duas lógicas de Estratégia dominaram o debate dos negócios: a lógica do Professor Michael Porter (da Universidade de Harvard, nos EUA), e a lógica dos Professores W. Chan Kim e Renée Mauborgne (do Insead, na França).
Na primeira lógica (a “Lógica de Porter”) os imperativos eram: competir no espaço de mercado existente; bater a competição; explorar a demanda existente; trabalhar o trade-off valor/custo; e alinhar o sistema todo das atividades da empresa com suas escolhas estratégicas de diferenciação ou baixo custo. Os imperativos da segunda lógica (que se tornou conhecida como a Lógica do “Oceano Azul”) eram: criar espaços de mercado incontestáveis; tornar a competição irrelevante; criar e capturar nova demanda; quebrar o trade-off valor/custo; e alinhar o sistema todo das atividades de uma empresa em perseguir a diferenciação e custo baixo.
É importante assinalar que o Professor Porter fez importantes adições na sua lógica, quando trabalhou o conceito dos “Smart Connected Products” (Produtos Inteligentes Conectados-PICs), demonstrando como esses PICs estão hoje transformando a competição bem como as empresas (ver estes artigos de 2014 e 2015 publicados na Harvard Business Review).
Apesar da inegável contribuição destas duas lógicas ao pensamento estratégico dos negócios, nada tem sido mais marcante, em termos de impacto recente no domínio dos profissionais de Estratégia, do que a contribuição das novas ferramentas de Inteligência Artificial - IA, e em como a IA tem se tornado o novo alicerce operacional dos negócios, ou seja, o centro do modelo operacional das empresas, definindo como as empresas guiam a execução de suas tarefas.
E até o momento os profissionais que sintetizaram de forma mais inovadora esse novo momento na discussão sobre Estratégia, são Marco Iansiti e Karim R. Lakhani, Professores da Harvard Business School (EUA), e autores do livro “Competing in the Age of AI: Strategy and Leadership When Algorithms and Networks Run the World” (Competindo na Era da IA: Estratégia e Liderança Quando Algoritmos e Redes Movem o Mundo), publicado neste ano pela Harvard Business Review Press.
É muito difícil resumir, em poucas palavras, a inovação que essa nova “Lógica Estratégica” nos traz. Mas, se tivéssemos que dar um único destaque, diríamos que o núcleo central desta nova lógica é a de que, ao entrarmos na Era da IA, a emergência dos modelos operacionais digitais está transformando a competição e as arquiteturas das empresas.
Tomando, por princípio, que o modelo de negócio de uma empresa é o que ela faz ou se propõe a fazer, e a estratégia é o como ela faz ou fará, o modelo operacional é o alicerce em que a empresa executa (ou executará) suas tarefas, ou seja, é o como a empresa entrega (ou entregará) seu valor. O modelo de negócio incorpora a estratégia da empresa, enquanto o modelo operacional incorpora os sistemas, processos, e capacidades que possibilitam a entrega dos bens e serviços para os consumidores da empresa.
Como nos apontam os autores, no centro da nova empresa está uma fábrica de decisão: a Fábrica de IA. Essa fábrica é composta por seus softwares, algoritmos, ferramentas de Analítica, além de outros itens, que estão dispostos em quatro componentes. O primeiro é o data pipeline (tubo ou fluxo de dados), o processo semiautomático que reúne, limpa, integra, e salvaguarda os dados em uma maneira sistemática, sustentável e escalável. O segundo componente são os algoritmos, os quais geram previsões sobre futuros estados ou ações dos negócios. O terceiro é uma plataforma de experimentação, em que hipóteses dizendo respeito a novos algoritmos são testadas para assegurar que suas sugestões estão tendo o efeito intencionado. E o quarto é a infraestrutura, os sistemas que foram incorporados neste processo por software, e os conectaram para usuários internos e externos.
Finalmente, na Era Industrial escala e escopo foram essenciais para aumentos nos níveis de produção (a custos unitários mais baixos), nas variedades de produção, e, a partir da inovação, o aprendizado veio se juntar para que esses três componentes incrementassem o desempenho operacional. Depois de centenas de anos de melhorias incrementais no modelo industrial, a empresa digital guiada por IA agora está, segundo Iansiti e Lakhani, mudando radicalmente o paradigma escala, escopo e aprendizado.
O livro é, de fato, uma inovação em termos de Estratégia, e por esta razão nós da Creativante recomendamos fortemente sua leitura!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre mais sobre modelos operacionais digitais na Era da IA, não hesite em nos contatar!