O conceito de Entrepreneurial Ecosystems (Ecossistemas Empreendedores) vem ganhando densidade nas literaturas acadêmica e de policy-making (geração de políticas). A partir de hoje vamos tentar tratar este conceito tendo como foco a análise da hipótese de que o setor de tecnologias de informação e comunicação – TICs de Pernambuco pode ser considerado um case de transição de um ecossistema empreendedor para um hub internacional de inovação.
E para fazermos essa análise, vamos iniciar com um breve tratamento histórico de como se constituiu/evoluiu este setor em Pernambuco, para, em seguida, desenvolvermos um matching (“casamento”) da evidência com o que vem sendo apontado na literatura. Para tanto, vamos apresentar o que o editor desta newsletter considera serem as 05 (cinco) fases de desenvolvimento do setor (ou “ecossistema empreendedor”) de TICs de Pernambuco, a saber:
Iniciaremos nesta newsletter com um breve apanhado da Primeira Fase.
As atividades de alguma forma relacionadas ao que hoje se entende como a concepção, desenvolvimento e comercialização de produtos e serviços de tecnologias de informação e comunicação-TICs em Pernambuco, e Recife em particular, remontam os anos 30 do século XX.
Como registrado no livro “História da Informática de Pernambuco”, publicado em 1996, pelo jornalista Manoel Barbosa, o berço do processamento de dados em Pernambuco foi a Secretaria de Finanças da Prefeitura do Recife. E o objeto da atividade foi o processamento eletromecânico dos dados do Imposto Predial e Territorial Urbano-IPTU e da folha de pagamentos do município, que se iniciaram em 1936.
Tal processamento era realizado por um dispositivo eletromecânico concebido pelo norte-americano Herman Hollerith, que consistia de perfuradora de cartões, tabuladora e separadora. O conjunto era conhecido como Hollerith, e por muito tempo foi sinônimo de contracheque, por prestar basicamente serviços de confecção de folhas de pagamento.
Após 15 anos, o processamento de dados em Pernambuco deu outro salto. A Prefeitura do Recife assinou contrato com a empresa International Business Machines Corporation- IBM (que havia absorvido a Serviços Hollerith Ltda.) para ampliação do equipamento Hollerith e suas atividades.
Mas foi somente em 1963 que, de forma substantiva, iniciou-se o efetivo contato dos pernambucanos com o computador. Naquele ano a Prefeitura do Recife produziu o primeiro Curso de Programação de Computador orientado pela IBM, capacitando os primeiros técnicos para trabalharem no primeiro computador do Recife, um IBM 1401, com mil posições de memória (Barbosa, 1996).
Em 1965, o Serviço Federal de Processamento de Dados- SERPRO passou a funcionar no Recife (também utilizando um IBM 1401 como equipamento inicial), inicialmente na sede da Receita Federal, no Bairro do Recife (onde se situa hoje o Porto Digital). Em 1969 o SERPRO se mudou para um dos pontos centrais do Recife (na Praça do Entroncamento, próxima à Av. Agamenon Magalhães), onde funcionou a Empresa Municipal de Processamento Eletrônico da Prefeitura do Recife- EMPREL (criada em 1969, e hoje denominada Empresa Municipal de Informática, e uma das únicas empresas municipais de informática das regiões norte e nordeste do país), que hoje está situada no Bairro do Bongi, na zona oeste do Recife. O SERPRO só veio a se instalar em sua atual sede (na Av. Rui Barbosa) em 1974.
A difusão do uso dos computadores IBM fez com que esta empresa inaugurasse um escritório no Recife também na década de 60. Em 1965 a IBM instalou na sede do Banco Nacional do Norte- BANORTE (braço financeiro do Grupo Batista da Silva, com origem na agro-indústria canavieira e na indústria têxtil pernambucanas) o primeiro computador para um cliente privado do Norte e Nordeste (Barbosa, 1996).
O BANORTE foi o primeiro grupo privado do Nordeste- e um dos primeiros do Brasil- a investir em alta escala em tecnologia de informação, antecipando-se, nesta dimensão, ao Governo do Estado e Prefeitura do Recife, que só vieram a dar provas de seus compromissos com a área em 1969, com a criação, respectivamente, das empresas Centro de Prestação de Serviços Técnicos de Pernambuco- CETEPE (que em 1987 passaria a ser a Empresa de Fomento da Informática do Estado de Pernambuco, e em 2004 se transformaria em Agência Estadual de Tecnologia da Informação- ATI, com sede em unidade contígua à Estação Ferroviária Central do Recife) e a EMPREL (já referida).
Em paralelo a este núcleo emergente governamental e comercial da Primeira Fase do “Ecossistema de TICs” em Pernambuco, surgiam na Universidade Federal de Pernambuco- UFPE os primeiros grupos de pesquisa que viriam a constituir, anos depois, o embrião da comunidade acadêmica especializada da informática pernambucana. Eram pesquisadores que já difundiam o uso do cálculo automático num dos cursos do Instituto de Matemática da UFPE.
No início dos anos 70, a UFPE exerceu um papel chave na amplificação do que hoje se pode denominar o “Ecossistema das TICs” em Pernambuco. O Instituto de Matemática funcionava naquele período, como uma espécie de encruzilhada, uma estação central de tendências e potenciais, um caldeirão, fervente, de ideias (Barbosa, 1996). O Instituto já criara em 1967 um Centro de Computação Eletrônica, que se tornaria um órgão independente na estrutura universitária, em 1971, com a denominação Centro de Processamento de Dados, e em 1974 passou a ser o Núcleo de Processamento de Dados- NPD até o ano de 2000, quando se transformou em Núcleo de Tecnologia da Informação- NTI da UFPE.
Ainda no início dos anos 70, o Instituto de Matemática da UFPE foi dividido em dois departamentos distintos: o Departamento de Matemática e o Departamento de Estatística e Informática. Em 1972, o Departamento de Estatística e Informática iniciou seu desmembramento, para dar origem a dois departamentos: o Departamento de Estatística e o Departamento de Informática -DI, este último iniciando suas atividades com apenas quatro professores. A efetivação desta separação só veio a se constituir uma realidade em 1981, de acordo com informações obtidas no próprio DI. Em 1975 era implantado na UFPE o seu Curso de Graduação em Ciência da Computação, que só veio a ser reconhecido em 1979.
Como apropriadamente apontado em Barbosa (1996), a informática de Pernambuco difundiu-se com rapidez como ferramenta nos anos 70. O parque instalado de máquinas crescia. Em 1972, um grupo de técnicos fundou a PROCENGE, hoje a mais antiga empresa de informática em atividade no Estado. Em 1975 a Companhia Hidroelétrica do São Francisco- CHESF inaugurou o seu Centro de Processamento de Dados. No mesmo ano o empresário Adson de Carvalho fundou a empresa IT, que posteriormente se tornou uma das grandes empresas de informática do Estado. Em 1976, outro empresário, Belarmino Alcoforado fundou a PITACO- a primeira grande produtora de software de Pernambuco, e, no ano seguinte, viria a fundar a Elógica, que mais à frente, nos anos 90, projetou-se como pioneiro na provisão de acesso à Internet.
Na semana que vem daremos continuidade com o relato da Segunda Fase do desenvolvimento do setor de TICs de Pernambuco!
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