O impacto da enorme queda nos preços das tecnologias de informação e comunicação- TICs tem incentivado uma grande literatura (em Economia e em Administração principalmente). A maioria dos estudos econômicos dos efeitos das TICs na organização da empresa, na desigualdade e na produtividade, trata as TICs como um estoque de capital agregado homogêneo. No entanto, estas tecnologias têm dois componentes distintos. Primeiro, através da propagação de um cada vez mais baixo custo de armazenamento e processamento de dados, informação está se tornando mais barata de acessar (TI). Segundo, através da propagação de comunicações baratas com e sem fio (TC), os agentes econômicos percebem que é cada vez mais fácil se comunicar uns com os outros (exemplo, e-mail e dispositivos móveis).
Reduções no custo de acessar informação armazenada em bancos de dados e em comunicação de informação entre agentes têm um impacto diferente na organização das empresas. Enquanto o acesso à informação mais barata tem um efeito “empoderador”, permitindo que os agentes tratem mais os problemas que eles enfrentam de modo mais autônomo, tecnologias de comunicação mais baratas facilitam a especialização: uma vez que os agentes podem facilmente se apoiar uns nos outros para resolver tarefas fora da sua área de expertise, eles, em última instância, desempenham uma variedade mais limitada de tarefas. Esta diferença importa não somente para a organização das empresas, mas também para a produtividade e em aspectos do mercado de trabalho.
Estes são alguns dos principais aspectos de um estudo intitulado “The distinct effects of Information Technology and Communication Technology on firm organization”, conduzido pels economistas Nicholas Bloom, Luis Garicano, Rafaella Sadun e John Van Reenen, cuja versão mais recente foi publicada em outubro de 2013. O ponto de partida deste estudo foi a análise conduzida por Luis Garicano sobre a organização hierárquica da expertise (que já tratamos aqui na newsletter de 09/02/2014 com o tratamento da Teoria da Hierarquia de Habilidades).
Segundo esta visão, decisões envolvem solução de problemas, e, então, a aquisição do conhecimento relevante para a decisão. Quando associar problemas a soluções é barato, a expertise é organizada horizontalmente: exemplo, a pessoa se dirige ao eletricista para questões de eletricidade. Mas quando associar problemas com soluções é caro, a organização do conhecimento é hierárquica: aqueles da “camada de baixo” lidam com problemas rotineiros, e aqueles da “camada de cima” lidam com as exceções. Logo, ao determinar em qual nível hierárquico as decisões devem ser tomadas, as empresas enfrentam um trade-off entre custos de aquisição de informação e custos de comunicação. Tomar decisões nas camadas mais baixas da hierarquia implica aumentar a carga cognitiva dos agentes nestes níveis.
Em outras palavras, o nível em que as decisões são tomadas responde pelo custo de adquirir e comunicar informação. De um lado, reduções nos custos de comunicação permitem a redução nos custos de aquisição de conhecimento através do crescente uso do “management by exception” (gestão por exceção), como por exemplo, gestores locais dependem mais dos gestores corporativos para tomada de decisão. Reduções no custo de acesso à informação, por outro lado, reduzem a carga cognitiva imposta pelo processo de decisão descentralizada e torna a descentralização mais eficiente. Consequentemente, tecnologias de informação e comunicação afetam diferenciadamente o nível hierárquico em que diferentes decisões são tomadas. Melhorias nas TIs devem empurrar as decisões “para baixo” levando à descentralização, enquanto melhorias em TCs devem empurrar as decisões “para cima” levando à centralização.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre os diferentes impactos das TIs e das TCs nas empresas, fique a vontade para nos contatar!