Economia brasileira: vai bem ou vai mal?

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Estamos encerrando o primeiro semestre de 2011 e metade do primeiro ano do governo da Presidente Dilma Rousseff. Neste sentido cabe a pergunta: a economia brasileira vai bem ou vai mal? E o que se pode esperar para os próximos seis meses deste ano, e os próximos anos?

O jornal Valor Econômico solicitou recentemente a alguns economistas do país uma série de artigos sobre a conjuntura atual, com foco maior nos problemas do câmbio e da inflação. Até o momento os economistas selecionados foram Samuel Pessoa (da FGV-RJ) e Márcio Nakane (USP), Francisco Lopes (Macrométrica), André Lara Resende, Luiz Carlos Mendonça de Barros (Quest Investimentos), Fernando J. Cardim de Carvalho (UFRJ), Antonio Delfim Neto (USP), e Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp).

Fazer uma síntese do que foi tratado até o momento por estes especialistas não é uma tarefa fácil, mas algumas convergências e divergências podem ser percebidas. Assinalamos aqui muito brevemente apenas o que consideramos as inovações no debate.

Samuel Pessoa e Márcio Nakane argumentam que a estabilização macroeconômica brasileira precisa ser completada. Apesar do enorme sucesso desde a alteração do padrão cambial, a introdução do sistema de metas de inflação, e a produção de superávits fiscais suficientemente elevados, convivemos com juros anormalmente elevados. Ao tratar de forma didática os aspectos mais relevantes da discussão sobre juros, câmbio e inflação, os autores fazem a seguinte pergunta: por quê a mobilidade internacional do capital não permite que haja a convergência da taxa de juros doméstica aos juros internacionais? Para eles são dois os motivos: a) como nossa baixa poupança requer absorção de poupança externa para fechar o espaço entre o investimento e a poupança doméstica, isto concorre para a existência de um risco cambial, que recoloca na agenda econômica a questão da conversibilidade do real; e b) a política oficial de forte acumulação de reservas. No limite, o que eles apontam é que os juros são elevados no Brasil porque há excesso de demanda sobre oferta por bens e serviços. Logo, para reduzir os juros há dois caminhos: rumar par uma maior conversibilidade do real, e alterar o contrato social da redemocratização, reduzindo fortemente o Estado de Bem-Estar Social de forma a elevarmos a poupança doméstica.

Francisco Lopes acredita que a atual configuração da política econômica brasileira é insustentável no longo prazo. Segundo ele, o forte crescimento com apreciação cambial no contexto de uma economia mundial com expansão moderada produz inexorável deterioração do balanço de pagamentos. Logo, em algum momento teremos que interromper o crescimento e ajustar a taxa de câmbio. Com o agravante de que, a despeito do aumento do déficit em transações correntes, a acumulação de reservas internacionais também ganhou velocidade vertiginosa, algo como US$ 100 bilhões por ano. Isso configura uma autêntica “bolha especulativa” que poderá ter graves conseqüências quando estourar. Depois de detalhar seu argumento, este economista chega à conclusão de que o trabalho de construção das pré-condições institucionais para a consolidação da estabilidade ainda está longe de concluído.

O Professor Delfim Neto argumenta que o Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a recente crise financeira internacional. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo, e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional.

Segundo ele, todo o processo inflacionário se explica por uma combinação de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) um “choque de oferta” interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos.

No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é “filtrado” por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os “falcões” e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta em 2012.

Em seu resumo, o Prof. Delfim Neto aponta que o principal problema do Brasil é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros- com idade entre 15 e 64 anos- em 2030. E isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988.

Concluindo, podemos afirmar que a economia brasileira apresenta graves problemas atuais e enormes desafios futuros, e que, infelizmente, ainda não tivemos, ao longo destes seis primeiros meses de 2011, e de nova Presidência, os sinais necessários para formarmos a expectativa que eles serão enfrentados na devida medida!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a economia brasileira, fique a vontade para nos contatar!

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